segunda-feira, 29 de março de 2010

Guias e Seus Trabalhos

Quando os Guias se incorporam nos “aparelhos” o fazem visando algum trabalho ou missão de caridade. Vamos falar um pouco deles:
CABOCLOS: A linha, chamada de Oxossi, por sincretismo e adaptação ou inovação aos cultos afros, é constituída de índios, geralmente brasileiros. Há uma infinidade deles. Quando nos terreiros, seus trabalhos são de desenvolvimento de mediunidade, descarga dos filhos, passes, conselhos, curas através de ervas, orientações, limpeza da aura dos consulentes, desobsessões, etc. São entidades autoritárias, enérgicas e às vezes intolerantes. Usam charutos, arcos, flechas, penachos e objetos próprios dos indígenas.

PRETOS VELHOS: constituída de escravos que desencarnaram no tempo da escravidão, a linha de Preto Velho caracteriza-se pela simplicidade, bondade, paciência e tolerância. Apresentam-se normalmente, curvados, capengando, como se os anos lhes pesassem no corpo. Seus trabalhos consistem em conselhos espirituais, materiais, psicológicos, curas através de ervas, passes, limpeza da aura do consulente, resolução de problemas. Vêm com os nomes que tinham quando vivos. Usam cachimbo, palheiro, fumos, velas, defumadores, aguardentes, vinhos, bengala, banquinhos, colares, rosários, etc.

CRIANÇAS: a linha de ibejada vêm aos terreiros para recordarem a infância e fazer toda a sorte de traquinagens. Gostam de doces, refrigerantes, brinquedos, próprios das crianças. Descem nos terreiros simbolizando a pureza, a inocência e a singeleza. Seus trabalhos se resumem em brincadeiras e divertimentos. Podem-se-lhes pedir ajuda para os nossos filhos, resolução de problemas, fazer confidências, mexericos, mas nunca para o mal, pois eles não atendem pedidos dessa natureza. Quando baixam, são usados flores, brinquedos, velas e guloseimas.

MARINHEIROS: da linha do Povo D’água ou de Iemanjá, geralmente baixam para beber e brincar, podem-lhe ser pedidos coisas simples. Não é muito aconselhável a incorporação dessas entidades, devido a quantidade de bebida que ingerem. Com doutrinação e proibição, porém, eles não bebem em excesso.

BAIANOS: descem para trabalho de desenvolvimento, orientação, curas, conselhos, desmanche de trabalhos de magia negra e outros.

BOIADEIROS: incorporam somente para permanecerem um pouco na terra. Algumas tendas lhes dão pequenos trabalhos para realizarem.

POVO D’ÁGUA: entidades encarregadas da limpeza e descarga fluídicas astral dos filhos de fé, dos terreiros ou lares. Ajudam muito em problemas relativos a casamento.

OGUM: são caciques guerreiros ou soldados. Sérios, enérgicos, muito utilizados para demanda pesada com Exú, trabalhos de desenvolvimentos, desobsessões, curas, conselhos, orientações, desmanche de magia negra e conselhos profissionais.

EXÚ: O Exú é tido como um espírito impuro, perverso, que só gosta de fazer o mal, entretanto para desmanchar um trabalho de magia, temos que chamar quem entende de magia, portanto, ele pode fazer o bem. Doutrinado é de grande eficácia para o Terreiro, pois conhecendo bastante a magia, é empregado para demandar com outros a fim de desmanchar trabalhos de quimbanda. Trata-se de uma força de esquerda usada para equilíbrio vibratório de um trabalho. Quando vêm ao terreiro, usa pemba, vela, pólvora, ponteiro, aguardente, charuto e outros.

POMBA GIRA: Mulher de Exú, ou Exú mulher. Popularíssima e muito solicitada para trabalhos das mais diversas finalidade. Espíritos alegres, vaidosos, ambiciosos, muitas vezes falsos, traiçoeiros, brejeiros e sensual. Gostam de bons cigarros, bebidas finas, jóias, bijuterias, flores, belos vestidos, presentes e outros. Usam de tudo em seus trabalhos, pemba, ponteiro, flores, cigarros, etc.

CIGANOS: Espíritos pouco chamados nas Tendas, trabalham principalmente na área de cartomancia, quiromancia e outros. Sabem muitas magias e simpatias, ajudam nos mais variados problemas. São muitas vezes confundidos com Exú e Pomba Gira, mas na realidade esta confusão se dá pelo desconhecimento da maioria dos filhos de fé. São espíritos alegres, festeiros, gostam de danças e canto, presentes e outros. Não gostam de trabalhar de graça, por isso é aconselhável lhes dar um presente ou uma moeda.
Como podemos observar, a Umbanda difere totalmente dos cultos afros, embora tenha hoje ramos oriundos daquele continente. Na Umbanda, o ato é mais prático e objetivo: o filho de fé fala pessoalmente com os Guias, obtendo deles a resposta ou a solução do problema que o levou ao terreiro.
Os escravos trouxeram uma rica bagagem teogônica (conjunto de deuses) do continente de origem. Cada um deles rege um fenômeno meteorológico ou natural, onde atua em consonância à sua aura vibratória. Diferem pouco de nação para nação, quase imperceptível, já que aqui se misturaram; mas suas entidades são mais ou menos as seguintes:

OLORUM (nagô) - ZAMBI (banto) Deus supremo do céu (Obatalá) e da terra (Odudua). Para ele não há culto. É homenageado através de orixás secundários.

OXALÁ - com duas divisões oxalufã e oxaguiã, ou seja, deus velho e deus moço, o maior de todos os Orixás. É deus branco e segundo a crença, durante seis meses é do sexo masculino e nos outros seis, feminino. A ele cabe as manifestações de religiosidade em geral, as ciências, as artes e o evangelho ou doutrina moral por excelência.

IEMANJÁ - rainha dos oceanos, mares e águas salgadas, protetora dos marinheiros, dos pescadores, dos peixes, da flora marítima, das viagens por mar e do casamento, as mais velha dos orixás; conta para auxiliá-la com outras entidades femininas: as sereias, ondinas, ninfas, náiades espíritos aquáticos. Em algumas nações existe também OLOKUM , que para os iorubanos é o deus do mar.

XANGÔ - orixá da justiça e também dos raios, relâmpagos, trovões e tempestades; com domínio também sobre as pedras e pedreiras; possui três esposas que o auxiliam.

OGUM - deus da guerra, das demandas, do embate físico, das disputas materiais e espirituais, do aço, do ferro, do fogo, da espada e das armas bélicas.

OXOSSE - orixá das matas, florestas e bosques, protetor dos caçadores, da fauna e da flora vegetal. Guia através das matas a quem se acha perdido.

IBEJI OU IBEJADA - deus gêmeo, protetor das crianças em gral, chamado também de ERÊ, dos brinquedos e das diversões infantis.

OXUM - deusa dos rios, lagos, cachoeiras, córregos e da água doce.

OMULU - orixá das doenças, das pestes, e das epidemias, médico procurado para curar moléstias tidas como incuráveis.

INHASSÃ - uma das esposas de Xangô, deusa dos ventos, raios, coriscos e tempestades. Algumas nações tem-na como guarda dos eguns nos cemitérios.

NANÃ BURUQUÊ - uma deusa velha, já avó, ranzinza, simbolizando, na nação iorubana, a chuva e atuando também nos rios e ribeirões.

OXUM MARÉ - segundo algumas nações é um deus hermafrodita. Seis meses do sexo masculino e seis meses do feminino. É o que sustenta o planeta terra e tem como representação o arco-íris. Em algumas nações, julgava-se fosse ele quem formava a chuva, chupando a água dos rios através do arco-íris e levando-a até as nuvens, de onde caia sobre a terra.

OSSÃE - deusa das folhas, dos frutos e dos brotos das árvores, regulando o seu emprego medicinal.

OBÁ - uma das três esposas de Xangô, juntamente com Inhassã.

EXÚ- é o orixá dono de todas as encruzilhadas, lugares ocultos e perigosos. Em algumas nações era um espírito neutro o cobrador de dívidas cármicas ou pecados. Em outras, era o mensageiro dos orixás. Nós acreditamos que Exú é o amigo que nos socorre quando somos atacados por forças maléficas, desmanchando e protegendo-nos contra trabalhos de magia negra.

BOMBOGIRA OU POMBA-GIRA- Exú mulher ou mulher de Exú. Para os leigos, mulheres da vida que perturbam os casamentos, para nós, espíritos extremamente feminino, disposto a nos ajudar em nossas dificuldades emocionais, sentimentais e muitos outros problemas, até mesmo sexuais.
Eis em síntese os principais orixás do panteão africano ou teogonia iorubana (jeje - nagô) e Banto ( Congo, Angola e Moçambique), os dois cultos que efetivamente impuseram suas filosofias as outras nações: Mina, Malê, etc.

Por. Adriano Figueiredo Leite - Presidente da ACALUZ
Pesquisa. Diego Bragança de Moura - Historiador da ACALUZ
Fonte: Conheça a Umbanda – J. Edison Orphanake – 2ª Edição
O Ritual da Umbanda – Vera Braga de Souza Gomes
O Evangelho na Umbanda – Jota Alves de Oliveira

O valor da Mediunidade

Para que os irmãos reflitam sobre o valor da mediunidade, vou relatar uma história acontecida nos planos espiritual e material, respectivamente.
“Joaquim, um espírito recém-desencarnado, cuja vida na terra havia sido péssima, fez um requerimento aos mentores espirituais de planos mais elevados, rogando desesperadamente nova oportunidade para resgatar as dívidas contraídas na extinta existência corpórea. Era tão grande seu arrependimento e tanto o torturava a própria consciência que, ao pedido feito, suplicava novo corpo físico, em qualquer situação, qualquer tipo de existência, por pior que fosse: poderia vir louco, cego, aleijado, mudo, idiota, canceroso, leproso, morfético, fosse o que fosse, pouco lhe importaria. Submeter-se-ia com resignação, mas desejava encarnar-se de novo e para isso, suplicava de joelhos. Levado seu pedido ao alto, Deus, em sua infinita misericórdia, avaliou seus rogos, seus desejos, e atendeu-o; dar-lhe-ia oportunidade para reencarnar-se, porém, dizia a permissão, o filho pedinte não necessitava vir à terra com defeito físico, doença ou perturbações mentais. Apenas uma condição era-lhe imposta: nascesse, na terra, como homem normal, mas viria como médium e comprometer-se-ia a prestar a caridade quatro horas por semana, durante trinta anos, ou seja, dos vinte até os cinqüenta anos. Feito isso, sua dívida estaria saldada. Joaquim, é claro, chorando de alegria, reencarnou-se. Até vinte anos de idade, tudo foi normal. Daí em diante desabrochou-lhe a mediunidade. Passou então a freqüentar um templo espírita, trabalhando duas horas na terça e duas horas no sábado. Assim, foi levando placidamente sua existência e até casou.
Voltemos ao plano espiritual.
Quarenta anos depois do nascimento de Joaquim, os mentores espirituais depararam com outro irmão necessitado de socorros urgentes, para tanto, tinham de recorrer a um médium na terra, que fornecesse fluídos materiais para sintonizar com a vibração grosseira daquele espírito em desespero, a fim de ser aliviado nos sofrimentos morais, após a necessária doutrinação. Um dos mentores, então, lembrou-se do Joaquim, o irmão que fizera o requerimento pedindo para encarnar-se na piores condições possíveis, mas que por bondade de Deus, apenas lhe fora imposta a faculdade mediúnica com a finalidade de ressarcir males semeados. Sim, o Joaquim era a pessoa indicada, porque deveria estar em plena atividade, já fortalecido em seu dom e ser-lhe-ia útil naquela emergência. Consultada sua ficha cármica, comprovaram o fato. Daí resolveram conduzir aquela alma sofredora até o médium para que sua mediunidade de incorporação, ajudasse o irmão aflito. E levaram-no até o centro, onde o médium compromissado deveria estar atuando, pois era um sábado, dia de sessão.
Chegando ao centro, os mentores viram outros médiuns, menos o Joaquim... um deles disse apreensivo: “talvez esteja doente... vamos até sua residência e apliquemo-lhe passes magnéticos para revitalizar-lhe, neutralizando algum mal-estar que por ventura tenha sido acometido”.
Verificada a ficha do centro, anotaram-lhe o endereço, para lá rumando. Antes, porém, deixaram o espírito angustiado entregue a outros médiuns daquele templo. Ao chegarem ao lar de Joaquim, encontraram-no. Lá estava ele deitado em uma rede, ocioso e indiferente, tomando uma cerveja. Surpresos, os mentores ainda ouviram a esposa do médium irresponsável perguntar-lhe por que não fora ao centro, pois era dia de sessão. O marido respondeu que fazia muito calor e ele já estava cansado de ficar horas e horas a atender irmãos que compareciam ao centro para aborrecê-lo...
Um dos mentores observou: “Não foi este que pediu para reencarnar-se como louco, cego, idiota, leproso, canceroso ou o que merecesse, desde que lhe fosse permitido reencarnar-se em novo corpo físico?... E Deus, na sua infinita benevolência, tão somente lhe impôs servir como médium, trabalhando quatro horas por semana, dos vinte aos cinqüenta anos de idade... E só isso? Ele está agora com apenas quarenta de vida terrena!” É verdade, afirmou o outro e ambos tristes, compadecidos do irmão, se retiraram.
Adivinhem o que irá acontecer ao Joaquim, quando novamente regressar ao mundo dos espíritos?...
Aí está, meus irmãos, a responsabilidade do médium, reflitam e muito cuidado para não incidirem no mesmo erro do Joaquim.

Por. Adriano Figueiredo Leite - Presidente da ACALUZ

sábado, 27 de março de 2010

Postagem de Comentários

Senhores usuários, em virtude do mau uso da postagem de comentários, decidimos suspender a postagem dos mesmos, uma vez que fomos claros e sucintos quanto ao sentido da existencia de se postar comentários ou perguntas, que expressamente seriam direcionadas ao Blog e sua equipe de coordenação. Porém, alguns anônimos se acharam no direito de transformar em competição de conhecimento e tiração de dúvidas da religião Umbanda com o Candomblé que é uma Religião independente e fora de nossa discursão. Sabedores que em momento algum estamos julgando a religião dos outros e nem tão pouco nos sentimos satisfeitos em ver pessoas que nem se quer tiveram a coragem de dizer o nome em julgar a nossa. Esperamos estar colocando o mais breve possivel a postagem de perguntas a disposição daqueles que nos escreviam para tirar suas dúvidas, e esperamos também que aqueles que buscaram o blog para discutir seu conhecimento pessoal que o façam em outro local. Somos sérios e queremos pessoas sérias ao nosso lado.

Por. Adriano Figueiredo Leite - Presidente da ACALUZ e toda sua Coordenação.

terça-feira, 23 de março de 2010

Boiadeiros

São espíritos de pessoas, que em vida trabalharam com o gado, em fazendas por todo o Brasil, estas entidades trabalham da mesma forma que os Caboclos nas sessões de Umbanda.
Usam de canções antigas, que expressam o trabalho com o gado e a vida simples das fazendas, nos ensinando a força que o trabalho tem e passando, como ensinamento, que o principal elemento da sua magia é a força de vontade, fazendo assim que consigamos uma vida melhor e farta.
Nos seus trabalhos usam de velas, pontos riscados e rezas fortes para todos os fins.
O Caboclo Boiadeiro traz o seu sangue quente do sertão, e o cheiro de carne queimada pelo sol das grandes caminhadas sempre tocando seu berrante para guiar o seu gado. Normalmente, eles fazem duas festas por ano, uma no inicio e outra no meio do ano. Eles são logo reconhecidos pela forma diferente de dançar, tem uma coreografia intricada de passos rápidos e ágeis, que mais parece um dançarino mímico, lidando bravamente com os bois.
Seu dia é quinta feira, gosta de bebida forte como por exemplo cachaça com mel de abelha, que eles chamam de meladinha, mas também bebem vinho. Fumam cigarro, cigarro de palha e charutos. Seu prato preferido é carne de boi com feijão tropeiro, feito com feijão de corda ou feijão cavalo. Boiadeiro também gosta muito de abóbora com farofa de torresmo. Em oferendas é sempre bom colocar um pedaço de fumo de rolo e cigarro de palha.
No Terreiro os Boiadeiros vêm "descendo em seus aparelhos" como estivessem laçando seu gado, dançando, bradando, enfim, criando seu ambiente de trabalho e vibração.
Com seus chicotes e laços vão quebrando as energias negativas e descarregando os médiuns, o terreiro e as pessoas da assistência.Os fortalecendo dentro da mediunidade, abrindo as portas para a entrada dos outros guias e tornando-se grandes protetores, assim como os Exus.
Quando o médium é mulher, freqüentemente, a entidade pede para que seja colocado um pano de cor, bem apertado, cobrindo o formato os seios. Estes panos acabam, por vezes, como um identificador da entidade, e até da sua linha mais forte de atuação, pela sua cor ou composição de cores.
Alguns usam chapéus de boiadeiro, laços, jalecos de couro, calças de bombachas, e tem alguns, que até tocam berrantes em seus trabalhos.
Nomes de alguns boiadeiros: Boiadeiro da Jurema, Boiadeiro do Lajedo, Boiadeiro do Rio, Carreiro, Boiadeiro do Ingá, Boiadeiro Navizala, Boiadeiro de Imbaúba, João Boiadeiro, Boiadeiro Chapéu de Couro, Boiadeiro Juremá, Zé Mineiro, Boiadeiro do Chapadão, etc ...
Sua saudação: “Getruá Boiadeiro”, “Xetro Marrumbaxêtro”
Os Boiadeiros são entidades que representam a natureza desbravadora, romântica, simples e persistente do homem do sertão, "o caboclo sertanejo". São os Vaqueiros, Boiadeiros, Laçadores, Peões, Tocadores de Viola. O mestiço Brasileiro, filho de branco com índio, índio com negro e assim vai.
Os Boiadeiros representam a própria essência da miscigenação do povo brasileiro: nossos costumes, crendices, superstições e fé.
Ao amanhecer o dia, o Boiadeiro arrumava seu cavalo e levava seu gado para o pasto, somente voltava com o cair da tarde, trazendo o gado de volta para o curral. Nas caminhadas tocava seu berrante e sua viola cantando sempre uma modinha para sua amada, que ficava na janela do sobrado, pois os grandes donos das fazendas não permitiam a mistura de empregados com a patroa.
É tal e qual se poderia presenciar do homem rude do campo. Durante o dia debaixo do calor intenso do sol ele segue, tocando a boiada, marcando seu gados e território. À noite ao voltar para casa, o churrasco com os amigos e a família, um bom papo, ponteado por um gole de aguardente e um bom palheiro, e nas festas muita alegria, nas danças e comemorações.
Sofreram preconceitos, como os "sem raça", sem definição de sua origem. Ganhando a terra do sertão com seu trabalho e luta, mas respeitando a natureza e aprendendo, um pouco com o índio: suas ervas, plantas e curas; e um pouco do negro: seus Orixás, mirongas e feitiços; e um pouco do branco: sua religião (posteriormente misturada com a do índio e a do negro) e sua língua, entre outras coisas.
Dá mesma maneira que os Pretos-Velhos representam a humildade, os Boiadeiros representam a força de vontade, a liberdade e a determinação que existe no homem do campo e a sua necessidade de conviver com a natureza e os animais, sempre de maneira simples, mas com uma força e fé muito grande.
O caboclo boiadeiro está ligado com a imagem do peão boiadeiro - habilidoso, valente e de muita força física. Vem sempre gritando e agitando os braços como se possuísse na mão, um laço para laçar um novilho. Sua dança simboliza o peão sobre o cavalo a andar nas pastagens.
Enquanto os "caboclos índios" são quase sempre sisudos e de poucas palavras, é possível encontrar alguns boiadeiros sorridentes e conversadores.
Os Boiadeiros vêm dentro da linha de Oxossi. Mas também são regidos por Iansã, tendo recebido da mesma a autoridade de conduzir os eguns da mesma forma que conduziam sua boiada quando encarnados. Levam cada boi (espírito) para seu destino, e trazem os bois que se desgarram (obsessores, quiumbas, etc.) de volta ao caminho do resto da boiada (o caminho do bem).

Sobre Nossos Caboclos Boiadeiros

Os Caboclos são entidades fortes, viris. Alguns têm algumas dificuldades de se expressar em nossa língua, sendo normalmente auxiliados pelos cambonos. São sérios, mas gostam de festas e fartura. Gostam de música, cantam toadas que falam em seus bois e suas andanças por essas terras de meu Deus. Os Boiadeiros também são conhecidos como "Encantados",pois segundo algumas lendas, eles não teriam morrido para se espiritualizarem, mas sim se encantados e transformados em entidades especiais.
Os Boiadeiros também apresentam bastante diversidade de manifestações. Boiadeiro menino, Boiadeiro da Campina, Boiadeiro Bugre e muitos outros tipos de Boiadeiros, sendo que alguns até trabalham muito próximos aos Exus.
Suas cantigas normalmente são muito alegres, tocadas num ritmo gostoso e vibrante. São grandes trabalhadores, e defendem a todos das influências negativas com muita garra e força espiritual. Possuem enorme poder espiritual e grande autoridade sobre os espíritos menos evoluídos, sendo tais espíritos subjugados por eles com muita facilidade.
Sabem que a prática da caridade os levará a evolução, trabalham incorporados na Umbanda, Quimbanda e Candomblé. Fazem parte da linha de caboclos, mais na verdade são bem diferentes em suas funções. Formam uma linha mais recente de espíritos, pois já viveram mais com a modernidade do que os caboclos, que foram povos primitivos. Esses espíritos já conviveram em sua ultima encarnação com a invenção da roda, do ferro, das armas de fogo e com a prática da magia na terra.
Saber que boiadeiros conheceram e utilizaram essas invenções nos ajuda muito para diferenciarmos dos caboclos. São rudes nas suas incorporações, com gestos velozes e pouco harmoniosos. Sua maior finalidade não é a consulta como os Pretos-velhos, nem os passes e muito menos as receitas de remédios como os caboclos, e sim o "dispersar de energia" aderida a corpos, paredes e objetos. É de extrema importância essa função pois enquanto os outros guias podem se preocupar com o teor das consultas e dos passes, existe essa linha "sempre" atenta a qualquer alteração de energia local (entrada de espíritos).
Quando bradam alto e rápido, com tom de ordem, estão na verdade ordenando a espíritos que entraram no local a se retirar, assim "limpam" o ambiente para que a prática da caridade continue sem alterações. Esses espíritos atendem aos boiadeiros pela demonstração de coragem que os mesmos lhes passam e são levados por eles para locais próprios de doutrina.
Em grande parte, o trabalho dos Boiadeiros ''e no descarrego e no preparo dos médiuns. Os fortalecendo dentro da mediunidade, abrindo a portas para a entrada dos outros guias e tornando-se grandes protetores, como os Exus.
Outra grande função de um boiadeiro é manter a disciplina das pessoas dentro de um terreiro, sejam elas médiuns da casa ou consulentes. Costumam proteger demais seus médiuns nas situações perigosas. São verdadeiros conselheiros e castigam quem prejudica um médium que ele goste. "Gostar" para um boiadeiro, é ver no seu médium coragem, lealdade e honestidade, aí sim é considerado por ele "filho". Pois ser filho de boiadeiro não é só tê-lo na coroa.
Trabalham também para Orixás, mais mesmo assim, não mudam sua finalidade de trabalho e são muito parecidos na sua forma de incorporar e falar, ou seja, um boiadeiro que trabalhe para Ogum é praticamente igual a um que trabalhe para Xangô, apenas cumprem ordens de Orixás diferentes, não absorvendo no entanto as características deles.
Dentro dessa linha a diversidade encontra-se na idade dos boiadeiros. Existem boiadeiros mais velhos, outros mais novos, e costumam dizer que pertencem a locais diferentes, como regiões, por exemplo: Nordeste, Sul, Centro-Oeste, etc...
Os Boiadeiros representam a própria essência da miscigenação do povo brasileiro: nossos costumes, crendices, superstições e fé.

Por. Adriano Figueiredo Leite - Presidente ACALUZ.
Pesquisa. Diego Bragança de Moura - Historiador da ACALUZ
Fonte de Pesquisa - Caboclos e Guias 1985

segunda-feira, 22 de março de 2010

Fumos e Bebidas

Questão que gera inúmeras controvérsias na Umbanda é o fato dos guias e entidades que se manifestam através de seus médiuns utilizarem-se do fumo e de bebidas, o que leva alguns críticos da religião a classificarem-na como “baixo espiritismo” e estarem os espíritos que nela atuam em grau evolutivo inferior. Tal assertiva não passa do mais errôneo entendimento do que acontece na liturgia da Umbanda.
Através de uma análise histórica, pode-se verificar que diversas são as religiões que se utilizam da bebida em seus fundamentos. Na mitologia Grega, o Deus Zeus juntamente com uma mortal de nome Semele, deu origem a Dionísio, o Deus do vinho e, os romanos com a expansão de seus costumes pela Europa inteira, deram fama a Baco, o equivalente romano ao Deus do vinho grego.
Com o Cristianismo, o vinho também mostra sua importância, desde o momento em que Jesus brindava o amor do Pai Celestial repartindo o vinho com seus apóstolos e seguidores. Até os dias de hoje a Igreja Católica compartilha o pão e o vinho entre seus fiéis, representativos ambos na eucaristia do corpo e do sangue do Cristo.
Na África, o vinho de palma é usado em diversos cultos, sendo considerado néctar divino. O mesmo se verifica nos cultos ameríndios e xamânicos, onde os pajés se utilizam de bebidas para realizarem seus rituais, como o caso da cerimônia da Ayahuasca.
Seguindo a tradição difundida culturalmente entre os povos, a Umbanda não é diferente. O fato de utilizar o álcool em seus rituais nada tem de inferioridade ou primitivismo, visto que essa substância tem um significado claro e repleto de fundamentos. O mesmo ocorre com o uso do fumo.
As entidades e guias da Umbanda utilizam-se dos elementos que compõem o álcool e o fumo para realizarem seus trabalhos de limpeza e purificação, tanto do consulente, como de ambientes. De que forma fazem isso?

O ÁLCOOL
O álcool, em sua essência, é líquido proveniente da cana-de-açúcar, extremamente volátil, assemelhando-se ao éter, representando elemento que facilmente transcende do plano material para o etéreo, sendo excelente auxiliar para desfazimento de energias negativas impregnadas no períspirito. Além do mais, é fogo em estado líquido, pela sua facilidade de combustão.
Cada linha de trabalho possui seu próprio “curiador”, ou seja, a bebida correta para cada uma delas:
- Caboclos bebem cerveja, vinho ou água de côco;
- Preto-velho bebe café vinho, marafo (aguardente);
- Crianças bebem guaraná e suco de frutas, e refrigerantes;
- Baianos bebem água de côco, batida de coco ou marafo;
- Boiadeiros bebem cerveja escura, vinho doce ou batida de côco;
- Marinheiros bebem rum, e alguns bebem cerveja clara;
- Exu bebe marafo (aguardente). Alguns bebem whisky ou vinho, cerveja ou outras bebidas destiladas;
- Pombogira bebe champagne ou sidra.
O álcool ainda possui a propriedade de ser usado como “contraste”, quando a entidade age magnetizando a bebida e faz o consulente ingeri-la em pequena quantidade, permitindo-lhes visualizar o seu organismo, mostrando algum problema que deve ser cuidado. Funciona também, como elemento antiséptico para limpar e desinfetar regiões que estejam sendo tratadas pelas entidades em seus atendimentos.
Não se pode deixar de citar que o álcool ainda propicia no organismo do médium um entorpecimento de suas faculdades, facilitando com isso o trabalho das entidades, proporcionando-lhes mais liberdade de ação durante o processo de incorporação, já que libera no corpo do médium substâncias ativadoras do cérebro que atuam nos plexos nervosos, aproveitadas pelas entidades em seu trabalho no plano material.
Muitas pessoas condenam o uso do “marafo” (álcool, aguardente, whisky, destilados) pela falange de Exus e Pombogiras. Dizem que essas entidades estão extremamente atrasadas evolutivamente e ainda ligadas ao plano terreno, necessitando desse elemento para satisfazerem seus vícios. Nada mais errado, também. A energia, como já se explicou é usada e manipulada como pelas demais linhas de trabalho da Umbanda em sua magística.
Exus e Pombogiras por estarem em faixas vibratórias mais próximas do ambiente terreno utilizam-se da energia retirada desses elementos para realizarem seus trabalhos magísticos. Usam o álcool contido nas bebidas para descarregos, retirando energias negativas dos médiuns, do ambiente ou dos consulentes.
A bebida é usada no ponto riscado, na tronqueira, nas ferramentas de Exu, etc. verifica-se nos terreiros, também, a bebida sendo usada antes de uma gira de Exu, sendo passada nas mãos e braços dos médiuns para baixar a vibração e facilitar a conexão entre o espírito incorporante e a matéria do médium.
O mesmo ocorre com a linha de trabalho de baianos, marinheiros, mineiros e outros, tendo esses a fama de gostarem de um “traguinho”. Na verdade, essas linhas vêm manifestando-se assim pela vibração que carregam quando da incorporação, nada tendo de embriagadas.
A título de conclusão, deve-se ainda dizer que o álcool ingerido pelo médium também é dissipado no trabalho, ficando em quantidade reduzida no organismo após haver a incorporação.

O FUMO
Por sua vez, o fumo é vegetal que traz o elemento terra e água, em sua composição e, os elementos ar e fogo quando utilizado na defumação. Conjuga, portanto, quando usado pelas entidades de Umbanda, os quatro elementos básicos – terra, fogo, ar, água -, além do elemento vegetal nos trabalhos de magia. O fumo é utilizado como meio de descarrego, agindo sobre os chacras dos consulentes.
O fumo é utilizado como componente para defumação, onde conjuga o fogo e a fumaça para a destruição dos campos magnéticos negativos, vinculados tanto à obsessões quanto à feitiços realizados contra o consulente.
Assim, o que as entidades da Umbanda fazem é utilizarem ervas, juntamente com os elementos água, fogo e ar para realizarem suas magias e defumações, desestruturando larvas astrais, miasmas e desagregando energias negativas e danosas à aura do consulente.
O fumo tem suas características vegetais, tendo através do seu processo de desenvolvimento na natureza arregimentando as mais diversas energias e substâncias - sais minerais, hidrogênio, oxigênio, fósforo, potássio, nitrogênio, vitaminais - do solo onde foi cultivado e do meio ambiente, além da absorção da energia solar e lunar, razão pela qual condensa forte carga energética de impregnações etéreas que libera durante a sua queima.
Se prestarmos atenção na atitude das entidades incorporadas, veremos que enquanto estas fumam, estão constantemente jogando baforadas da fumaça de seu cachimbo, charuto, ou cigarro sobre aquele que com eles se consulta. Não tragam a fumaça, apenas enchem a boca com a fumaça e a expelem sobre o consulente ou para o ar. Para quem não sabe, nessa hora está sendo realizado verdadeiro passe, onde a defumação se conjuga com o sopro para realizar a limpeza energética da aura ou perispírito da pessoa.
Pode-se verificar que as entidades podem realizar seu trabalho sem a utilização desses elementos sem qualquer problema. Mas, poder-se-ia dizer, se elas existem e comprovadamente têm o seu significado, por que se abster de usá-las? O que deve ser deixado de lado é a associação de seu uso como indicativo de inferioridade.
A título de curiosidade, devemos ressaltar que os Guias de Umbanda dependendo da linha em que realizam seu trabalho, não se utilizam dessas ferramentas, sendo que podemos encontrar a mesma entidade realizando o mesmo trabalho, mas em outra linha vibratória, sem se valer desses elementos em situações específicas, mas não deixando de ser a mesma entidade. De uma forma ou de outra, vai realizar seu trabalho e não vai ser mais ou menos evoluída por isso.
O que deve ficar entendido é que a entidade incorporada quando realiza o sopro da fumaça de seu cachimbo, charuto, ou cigarro, dando suas baforadas nos consulentes, cria com isso as condições, tanto no plano físico quanto espiritual, para a realização da magia da Umbanda, tudo sob o aval dos espíritos de luz e dos Orixás. Só o sopro em si carrega efeitos terapêuticos e espirituais poderosos, mas quando aliados à erva tem seu efeito potencializado, gerando resultados positivos como se observam nos terreiros de Umbanda.
A dinâmica, portanto, deve ser entendida como um todo. Alia-se, no trabalho de Umbanda, o álcool, o fumo, a energia proveniente das entidades e espíritos superiores que orientam os trabalhos, a energia presente na própria natureza através do trabalho dos elementais, bem como o ectoplasma retirado dos médiuns durante os trabalhos mediúnicos, possibilitando a cura do consulente necessitado de ajuda.
Entender essa prática como apego dos espíritos incorporantes à matéria passa a ser, dessa forma, desconhecimento pueril acerca dos trabalhos magísticos realizados dentro da ritualística da Umbanda.
No contato permanente com as entidades que incorporam na Umbanda, passamos a perceber, inclusive, sua preocupação com o uso indiscriminado de fumo ou de cigarros que são comercializados, e seus conselhos para evitarem que seus médiuns tenham seu corpo prejudicado pelo uso de tais ferramentas.
É comum pedirem cachimbos com filtro para diminuírem ainda mais a assimilação pelo corpo do médium da nicotina presente em cigarros ou fumo comercializados. Encontramos entidades que pedem a seus “cavalos” que fabriquem seu fumo com ervas naturais, como alecrim, alfazema e outras aliadas ao fumo in natura. Até porque a combinação de tais ervas potencializa os efeitos energéticos, catalisadores, descarregadores e reequilibrantes do perispírito do consulente.
Algumas entidades chegam a cuspir em recipientes adequados, a famosa "caixinha", que fica ao seu lado para neste ato evitar ao máximo a ingestão da nicotina e de outros elementos que não interessam para o trabalho e muito do que vêm pela química industrial.
Com todo o exposto, pode-se perceber que tanto o álcool quanto o fumo são verdadeiras, úteis e necessárias ferramentas de trabalho das entidades que trabalham na Umbanda.
Tal fato deve ser estudado e haver orientação precisa durante a doutrinação dos médiuns e assistentes das giras de Umbanda para entenderem com seriedade a real necessidade de haver um trabalho sério e efetivo de esclarecimento para evitar entendimentos errados que levem a denegrir a verdadeira caridade prestada pelas entidades e guias de Umbanda que utilizando das ferramentas que a natureza lhes oferece, levam aos filhos de fé um lenitivo para suas mazelas e dores, na fé de Oxalá.
Por. Adriano Figueiredo Leite - Presidente da ACALUZ
Pesquisa. Diego Bragança de Moura - Historiador da ACALUZ.